Veja abaixo o significado do nome Araucária na língua indígena
Clique para ver a importância cultural e utilização do Pinheiro/Araucária

KURI’Y

Guarani
Faz parte da espiritualidade do povo. É alimento e remédio.

FÁG

Kaingang
Faz parte da história de origem do povo, possui esta relação com muitos elementos da cultura Kaingang. Possui marca exogâmica Kamẽ. Está presente no ritual do Kiki Koy (culto aos mortos, festa dos mortos, fandango Kaingang), é transformado em cocho para recipiente da bebida fermentada. Os nós são utilizados no fogo dos 3 dias de ritual do Kiki.É alimento, os brotos e o pinhão. Remédio. Tinta que pinta o corpo.

ZÁG

Laklãnõ/Xokleng

CONEXÕES DA ARAUCÁRIA

A araucária marca a história, a narrativa e a cosmologia dos três povos indígenas, que são: Guarani, Kaingang e Laklãnõ/Xokleng, que habitam o território brasileiro, principalmente do estado de Santa Catarina. A araucária (Kuri’y, em Guarani; Fág, em Kaingang; Zág, em Laklãnõ/Xokleng) é uma árvore fundamental aos povos indígenas do sul do Brasil. Ela marca a história, a narrativa e a cosmologia dos três povos indígenas que habitam o território sul-brasileiro: Guarani, Kaingang e Laklãnõ/Xokleng. Um dos ecossistemas mais ameaçados no mundo atualmente, a floresta de araucária foi cultivada pelos povos indígenas séculos atrás. Em torno dela e de sua floresta, se reúnem alimentos, plantas, medicinais, matérias-primas, animais atraídos pelos seus recursos, além de mitos, saberes e fazeres que orientam as formas de ser/estar no mundo desses povos. A espiritualidade presente em todos os aspectos envolvendo a araucária pode ser compreendida de forma diferente aos olhos dos povos indígenas Guarani, Kaingang e Laklãnõ/Xokleng, apesar da perspectiva ser mais focada para o povo Kaingang.

FOTO 1 Kiki, o ritual de resistencia Kaingang (2011)
FOTO 4 - Kiki, o ritual de resistencia Kaingang (2011)
TERRA_CÉU(1)-2

O uso e o manejo da araucária estão diretamente ligados à transformação. Transformação de suas grimpas, troncos e nós, que geram o fogo e aquecem corpos. Fogo que transforma alimentos crus em cozidos – tais como  o pinhão, semente da araucária, que é consumido de várias formas pelos povos originários: assado na brasa, cozido, ensopado, reduzido à farinha, fermentado em bebidas cerimoniais. O mesmo fogo é responsável por queimar panelas e vasilhames, transformando o barro em cerâmica, unindo corpos e espíritos em grandes rituais. É através do fogo que a araucária transforma-se em carvão, num ato de purificação que o permite ser  transformado na tinta que adentra a pele em forma de proteção espiritual e de identificação da marca exogâmica Kamē – evidenciando belos grafismos corporais e artesanais.

FOTO 5-2
FOTO 6 - Kiki, o ritual de resistencia Kaingang (2011)
FOTO 7 - Kiki, o ritual de resistencia Kaingang (2011)

As araucárias, porém, não geram apenas a transformação. Elas têm a ver com a permanência – e, portanto, com a terra. Suas raízes são tão profundas quanto a história indígena no sul do Brasil. Suas cascas grossas e rugosas eram antigamente marcadas por grafismos, orientando o caminhar do povo Kaingang ao longo de seu território milenar. As mesmas cascas que podem ser utilizadas para tingir fibras de cestaria e marcar os corpos da metade Kamē. Já os seus pesados nós-de-pinho, de grande durabilidade, podem ser utilizados para a fabricação de objetos como pontas de flecha e botoques, famosos por adornar os lábios dos homens Laklãnõ/Xokleng até muito recentemente. Os mesmo nós-de-pinho são utilizados para fins medicinais do povo Kaingang, assim como utilizados para dar início e alimentar o fogo dos Kamē e Kanhru no ritual do Kiki Koj (uma festa em homenagem aos mortos). Os nós-de-pinho são utilizados como objetos sagrados para o povo Guarani, a partir do nó-de-pinho é fabricado o Petyngua (cachimbo), o objeto é uma ponte de ligação entre a espiritualidade Guarani com os principais rituais que são realizados.

A araucária se destaca na paisagem e também nas narrativas dos povos indígenas Guarani, Kaingang e Laklãnõ/Xokleng, por se conectar com muitos elementos que se complementam como a espiritualidade, o céu, o fogo, a transformação, a terra e o corpo.

Por fim, as araucárias não remetem unicamente à terra. Com sua vasta altura, que pode chegar a 50m, elas se destacam na paisagem sul-brasileira. Da mesma forma que suas copas e galhos apontam, em riste, para o céu, as araucárias remetem à espiritualidade dos povos indígenas. Entre os Kaingang, ela é uma parte central do Kiki Koj, o ritual de homenagem aos mortos, no qual se costuma cortar e escavar um tronco de araucária como suporte para a bebida fermentada cerimonial consumida na ocasião. O corte desse tronco é acompanhado por rezas e cantos semelhantes aos entoados para os mortos durante os três dias de ritual. Já os Laklãnõ/Xokleng se utilizavam do carvão de araucária para realizar o koplëg, importante ritual de adivinhação que lhes auxiliava a trilhar os melhores caminhos, encontrar locais de caça, lidar com os espíritos e assim por diante. Para os Guarani, a araucária é uma árvore de fortalecimento espiritual, os objetos fabricados a partir da sua matéria-prima são sagrados, e estão presentes em rituais que envolvem esta conexão espiritual entre os humanos e não-humanos. destaca-se que há muito sobre a relação da araucária com o povo Guarani e Laklãnõ/Xokleng.

Usos da araucária e correlatos entre os Kaingang e Laklãnõ

Eixos

Transformação

Terra

Fogo

Espiritualidade

Corpo

Céu

Consumo do pinhão (assado na brasa, cozido, em forma de farinha, bebidas fermentadas).

Enterrramento de pinhão para conserva

Adriana

Ponta de flecha de nó de pinho do tipo “virote” pra caçar aves (ndô)

Henry (1941); Lavina (1994)

Ponta de flecha tipo “virote” de nó de pinho para derrubar pinhas em época de colheita.

Fernandes (1941).

Botoque de nó de pinho

Paula (1924); Henry (1941); Métraux (1946)

Grimpa pra fazer fogo

Ramos de araucária colocados sobre a sepultura dos mortos Kamé durante o kiki

Haverroth (1997)

Marcas nos troncos para demarcação territorial

Mabilde (1983 [1897])

Caça atraída pelas araucárias (tatu, paca, veado, tateto, etc.)

Lavina (1994); Almeida (2015)

“A ponta do pinheiro (carbonizada ou em forma de chá) é usada para ter destreza e não escorregar ao subir nele”

Silva (2001), p.128

Tronco escavado (cocho) como suporte para bebida do kiki. Espiritualidade envolvendo o corte do tronco – rezas, cantos, danças; pinheiro como pessoa.

Baldus (1937); Veiga (1994); Haverroth (1997); Biazi (2017)

Ritual de adivinhação (kôplëgn) com carvão de araucária

Henry (1941); Métraux (1946)

Combustível para fogueira

Baldus (1937)

Combustível para queima de cerâmica

Fonseca (2015)

Broto do galho do pinheiro como alimento

Adriana

Madeira carbonizada para pintura corporal da metade Kamé durante o kiki

Baldus (1937); Nimuendajú (1993); Silva (2001)

Tingir fibras de cestaria esfregando na parte interna da casca da araucária

Fernandes (1941)

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